sexta-feira, 16 de setembro de 2011

APONTAMENTOS PARA A HISTÓRIA DO SÍTIO "LAGOA DO CLEMENTINO".


 COMUNIDADES APODIENSES

      Referência  toponímica  muito  antiga, atrelada  à  pessoa  de  CLEMENTINO  DE  GÓIS NOGUEIRA, que  nasceu  no  sítio
"Garrafa", na  várzea  do  Apodi, por volta do ano de 1805, filho  legítimo  de  JOÃO  DE  GÓIS  NOGUEIRA  e  de  MARIA  DA  PAZ   BAR-
ROSO.  Adquiriu  ditas  terras  por  herança  paterna. Esta  gleba  de  terras  é  conhecida  popularmente  como sendo  a  "Lagoa     do
Quelementino", corruptela  sertaneja  do nome  Clementino, já deveras  enraizado   no  conhecimento  dos  antigos  comboeiros  que  por
aí  passavam, trilhando  o  primeiro  caminho  da  CHAPADA  DO  APODI, cuja serra  teve a  primeira  denominação de "SERRA DA  PICADA",
 Essa  localidade  rural  fica  encravada entre  os  sítios "CANTO DE VARAS"  e  "SOLEDADE". Clementino  era  componente  da
aberta pelos  facões  dos bravos  homens  que  compunham  a  família  NOGUEIRA  FERREIRA,fundadora  e  colonizadora de Apodi.
quarta geração  descendente  da  brava  fundadora  ANTONIA  DE  FREITAS  NOGUEIRA  e de  seu segundo marido  MANOEL  DE CARVALHO
TINOCO, com  quem  casou  em  Apodi no ano  de  1681.  Pesquisando  antigos  processos-crimes  do  1º Cartório Judiciário  de  Apodi, ve-
rifiquei  vários em  que  o  Clementino  aparece  como  réu, cujos processos  tinham como objeto  desde  a  prática  de  lesões  corporais,
até  a  prática  de tentativa  de   homicídio, como  autor  intelectual.  Esse  processo  foi  o  que  motivou  sua  mudança  de  domicílio  para 
Mossoró, no  ano  de  1850.  Esse  crime  teve  origem  numa  rixa  originada  no ano  de  1847  entre  o  Sr. José  Francisco das  Chagas
Jaqueira, então  fiscal  de  Pesos  e  Medidas, por  ter  este  dado  uma  pancada  no  Clementino, motivado  por  uma  articulação  que  ti-
veram  por  via  de  fiscalização de  medidas.  Desse  incidente  nasceu  o  atentado  à  vida  do  Jaqueira (Genro do rico fazendeiro Caetano
Gomes de Oliveira, dono da maior  parte  da  fazenda  "Santa Rosa"), ocorrido por volta  das  19  horas do  dia  08 de  Março  de  1848 -
Quarta-Feira  de  cinzas.  O  Sr. Jaqueira  se  encontrava  sentado  à  porta  de  sua  residência, localizada no "Quadro  da  Rua", quando foi
vítima de  um  tiro disparado  pelos  elementos  Francisco  Ferreira  Capanema  e  Elziário  de  tal, contratados por Clementino  e  seus  ir-
mãos  Bernardino de  Góis  Nogueira (Bisavô materno do Prof. Robson Lopes) e  Antonio  de  Góis  Nogueira, para  tal  empreitada.
                    Instaurado  o  competente  processo-crime, o  réu  BERNARDINO  DE  GÓIS  NOGUEIRA  assumiu  a  condição de  mandante  do  crime, tendo  sido  submentido  à  julgamento  pelo  Tribunal  Popular  do  Júri  em  05.08.1853,  tendo  sido  condenado  à  pena  de
37 meses  e  dez  dias  de  prisão  simples.  Quanto  ao  Clementino, já no ano de  1856  destacava-se  como  um  dos  principais  comer-
ciantes  da  praça  de  Mossoró, tendo  neste  mesmo  ano sido  eleito  suplente  de  Vereador  para  o  período 1857-1860 (Vide  livro "LE-
GISLATIVO E  EXECUTIVO  DE  MOSSORÓ, numa  viagem  mais  que centenária. - Coleção  Mossoroense - Vol. CCLXXXVII -  Ano  1985  -
Autor:  Raimundo  Soares  de  Brito).
       Em Mossoró, Clementino  construiu  um  imponente  casarão  senhorial  com  suntuoso  andar  superior, construído  na  Rua  30  de Setembro, disputando  a  primazia  com  o  opulento  comerciante  Joaquim  Nogueira da  Costa, Aracatiense  radicado  na  praça   de Mossoró, que  construiu  o primeiro  prédio  assobradado  na  cidade. O  imponente  sobrado  do Clementino  serviu  de  esconderijo  
para  o  famoso  "Cangaceiro  romântico"  JESUÍNO  BRILHANTE, sempre  que  este  se  dirigia  à  Mossoró, onde  contava  com  a  eficaz
e  coiteira  hospitalidade  do seu amigo  pessoal  Clementino.  Em  1904  o  Clementino  resolveu  investir  seu  capital  no  Amazonas,onde  faleceu  vitimado  pela  temível  febre  amarela.  A  sua  esposa  Umbelina  de  Góis  Nogueira  faleceu  em  Mossoró  a
27.03.1914, aos  80  anos  de  idade, tendo  uma  prole  de  14  filhos.  Este  famoso  sobrado  do Clementino  foi  vendido  no  ano   de
1924  pela  única  filha  sobrevivente  Francisca  de  Góis  Nogueira, ao  Apodiense  o  intelectual  JOSÉ  MARTINS DE  VASCONCELOS. Atualmente  este prédio  pertence  aos  netos  de  Martins de  Vasconcelos.
             As  terras  que  circundam  a  "LAGOA  DO  CLEMENTINO"  foram  abandonadas  pelo  Clementino  ainda  no  ano  de  1850, sendo certo  que  ficaram  conhecidas  como  sendo  "terras  devolutas", sem dono, o que  ocasionou  a  efetivação  de  posse  por  muitos  Apodienses, no  que  o  agropecuarista  Aristides  Ferreira  Pinto  comprou  a  maior  parte  das  terras  que  englobava  a  lagoa, a  alguns  posseiros, e  Izauro  Camilo  comprou  a  outra  parte  desta  gleba.  O  Sr. Raimundo  Maia  Pinto, filho  do Sr. Aris-
tides  Pinto  doou, no  ano  de  2006, 50  hectares  desta  gleba, para  edificação  e  instalação  do  IFRN.  

Por Marcos Pinto.

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