quinta-feira, 22 de setembro de 2011

SUBSÍDIOS PARA A HISTÓRIA DA TOPONÍMIA APODIENSE - "BAIXA DO VELHO OLEGÁRIO".


A  história  da  toponímia  Apodiense  traz  em  seu  bojo  um  intrincado  campo  de  interrogações  quanto  às  origens  referenciais  atribuídas  a  pessoas, lugares  e  coisas.  Neste  contexto, adentremos  a  história  da  antiga  "BAIXA  DO VELHO  OLEGÁRIO", denominação  que  só  perdura  na  memória  dos  que  já  atingem  a  idade  de  05  lustros (Cada lustro equivale  a  15 anos).  Esta  baixa  começa  no  sopé  da  ladeira  de Apodi, cortada  pela  BR-405,em   cuja  gleba  de  terras  encontra-se  atualmente  instalada a  fonte de  água  mineral  denominada  de  "Cristalina do  Oeste". Este  topônimo  perdurou  até  a  década  de  1950, sendo  totalmente  desconhecido atualmente.   Recebeu  a  denominação  popular  de  "BAIXA  DO VELHO  OLEGÁRIO", em  decorrência  do  seguinte  fato: No  ano  de 1950   chegou  em  Apodi  o  Sr.  OLEGÁRIO  INOCÊNCIO  DE  MEDEIROS, vindo  dos  sertões  do  Seridó, onde  nasceu  na  fazenda  "  Do-minga"  do  município  de  Caicó, primitivo  feudo  territorial  da  famosa  família  MEDEIROS, com  origem  em  Portugal.  OLEGÁRIO era filho  legítimo  de  Manoel  Inocêncio  de  Medeiros  e  de  Mariana  Maria  de  Medeiros. Casou  com  sua  prima  em  primeiro  grau  civil duplicado, conhecido  como  "Prima  carnal", VIRGÍNIA  VIRGÍLIA  DE  MEDEIROS. Ao   chegar  em  Apodi, de  imediato  comprou  pequenas  glebas  de  terras, anexas  umas  às  outras, aos  Srs. Felizardo  e   Júlio  Jagunço, sendo  certo  que  este  Júlio  recebera  o  apelido  de  "jagunço"  por ter  sido  um  dos  muitos  fanáticos romeiros   do  famoso  Padre  Cícero  Romão  Batista, e  ter  residido  na fazenda  do  mesmo  Padre  Cícero,cuja  fazenda  recebera  a  denominação  de  "CALDEIRÃO" em  cujas  terras  se estabeleceu  o  famoso  Beato  José  Lourenço  à  frente  de  uma  comunidade  rural  religiosa  formada  por  ele.  Segundo  familiares  do  Sr. JÚLIO JAGUNÇO, o mesmo chegara em Apodi no ano de 1936, fugindo da perseguição  empreendida  pelo  governo  do  Ceará  às  pessoas  conhecidas  como  "Jagunços  do  Caldeirão". Viera  acompanhado   por uma  irmã  de  nome  Júlia  e  de  um  irmão  por  nome  Manoel  Jagunço.  Em  Setembro  de  1936  houve  o  primeiro  movimento  de  repressão  à  "Comunidade  do  Caldeirão". Daí   o  motivo  do  êxodo  dos  irmãos  "Jagunços"  para  o  Apodi, acompanhando  muitos  Apodienses  que  tinha  ido  para  a  fazenda  "Caldeirão"  e  que  foram  resgatados  naquele  rincão  cearense  em  um  caminhão  do  coronel  Lucas  Pinto, que  acolheu-os  na  volta,  protegendo-os  de  possíveis  perseguições  da  polícia  cearense. A  brutal  repressão  aos  infelizes  camponeses/romeiros  da  fazenda  "Caldeirão"  deu-se  no  dia  12  de  Maio  de  1937, quando  aviões  sobrevoaram  a  fazenda, metralhando  e  soltando  granadas  sobre  os  casebres  dos  camponeses, fazendo  um número  desconhecido  de  vítimas.   Foi  um genocídio  bárbaro. Homens, mulheres  e  crianças  foram  covardemente  chacinados,atingidos por granadas  atiradas  dos aviões,   acrescidos  aos  tiros  e  baionetas  dos  mais de  200  homens  do  1º  Batalhão  de  combate  da  Força  Pública  do  Ceará, que de  forma  ensandecida  atacaram  a  fazenda  "Caldeirão".  As  mortes  foram tantas  que  os  cadáveres  eram  enterrados  em  valas  coletivas  ou  empilhados, para  serem  incinerados  com  gasolina, numa  grande  fogueira. É  desconhecido  até  hoje  o  número  de  vítimas  do  massacre. Especula-se, entretanto, um  número  entre  300 a  1.000  mortes. (FONTE: Vide  livro  "PRECEDENTES  E  VERDADES  HISTÓRICAS  -  PARTICIPAÇÃO  DO  NORDESTE  NA  LUTA  DO  POVO  BRASILEIRO" -   Autor: Rubens  Coelho - FVR/ Coleção  Mossoroense - Série  C - Vol. 1492 - Outubro de  2005). A  informação  quanto  à  terra  de  origem  dos  irmãos  Jagunço  nos  foi  transmitida  pelo  Antonio  José de  Andrade, popularmente  conhecido  como  Sêo  Antonio  Broca, que  tem  um  filho  casado  com  uma  neta  do  Sr. Manoel  Jagunço, que  foi  o  único  que  ficou  em  Apodi, tendo  os  dois  irmãos  Júlia  e  Júlio  Jagunço  retornado  para  o  Ceará.  Dos  filhos  do  VELHO  OLEGÁRIO,  somente  o  filho  de  nome  GERALDO  OLEGÁRIO  reside  em  Apodi,  onde  constituiu  família. Sêo  Olegário  e  demais  filhos  retornaram  para  o  Seridó.

Por Marcos Pinto.

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